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MITO



Lá pelos meus sete, oito anos de idade, ganhei um carrinho de presente de aniversário. Sim, sou do tempo em que uma criança de oito anos ficava feliz da vida com um carrinho (hoje em dia a molecada com essa idade já quer um ipad). O tal do carrinho era de fricção, daqueles que você puxa para trás e quando solta ele sai em disparada. Mas esse em especial tinha dois diferenciais: 1- fazia um barulho que imitava o motor do carro. 2 - era um Porsche 911!!

Desde aquela época já preferia o Porsche do que outros super esportivos. Com aquela inocência de criança achava que ele tinha (com aqueles olhos redondos) uma cara muito mais simpática do que a da Ferrari. Claro que eu também tinha umas Ferraris de brinquedo, mas nas corridas de brincadeira eu sempre fazia o 911 chegar na frente e pensava: "-esse barulho é muito legal, será que é igualzinho ao de verdade?" Bem esta foi uma pergunta que levou mais de 12 anos para ser respondida. Acho que foi em 1999 a primeira vez que eu fiquei frente a frente com um Porsche, era um branco, 1977 e tava lá com o seu 6 cil funcionando como um reloginho. É óbvio que o barulho não lembrava em nada o do carrinho e era obviamente muito melhor. Para quem nunca teve o privilégio de ouvir um motor desses em funcionamento, me lembro da primeira coisa que pensei ao ouvi-lo naquela época: é uma mistura de motor de Fusca com o 6 cil do Opala!


Pode soar como heresia, mas acho que é a primeira coisa que vem na cabeça da maioria que o ouve pela primeira vez. Mas este pensamento logo muda e você começa a perceber que está diante de uma orquestra única e que toca exatamente o que é "música para nossos ouvidos". Bom a sessão de fotos estava marcada e mal podia escutar para ouvir tal sinfonia novamente. Chegando no local a fera repousava tranquilamente em um canto da garagem, cuidadosamente protegida por uma capa. Chave no contato e quando estava prestes a escutar novamente o ronco do 911, assim de perto, o que veio foi um sonoro "tec". Não há perfeição da engenharia que resista a uma bateria descarregada! Com a ajuda de outro carro e cabos de fora botamos o 6 cilindros pra funcionar. O ronco bravo e encorpado ecoava pela garagem. O lado bom da coisa é que quase todo o ensaio das fotos foi feito com o motor funcionando, para dar um "up" na carga da bateria.


Enquanto as fotos iam rolando, o dono foi me contando sobre todo o extenso processo de restauração do carro que estava pintado de branco e com muita funilaria pra fazer.

Todo o processo foi documentado com centenas de fotos que se fossemos colocar aqui ia ficar um post mais do que gigante, tamanha riqueza de detalhes.

O Porsche em questão é um 911 ano 1975, feito para o mercado americano, (o chamado U.S. spec) o modelo é o básico, mas tem o mesmo motor 2.7 que equipava o RS. Outra curiosidade é o teto solar. Este último deve ter sido ter sido um pedido especial feito pelo primeiro dono, para a importadora DACON. ​​

1975 era aquela época da forte crise do petróleo nos EUA o que levou a Porsche equipar o carro com a injeção K-Jetronic da Bosch, que acaba com a potência do carro. Você que está lendo deve estar querendo saber da potência. lamento desanimá-lo, mas é algo em torno de 170-180hp. Pouco para os dias de hoje, mas bem aceitável para a época, ainda mais levando em conta o baixo peso do carro.O interior é bonito e muito bem restaurado, mas passa longe dos que estamos acostumados a ver hoje em dia, cheio de botões, GPS e toda aquela parafernalha eletrônica embarcada. Me chamou a atenção no painel uma luz vermelha que avisa para o motorista colocar o cinto. Seguido dela botões de desembaçador, farol e acendedor de cigarros cuidadosamente alinhados com o puxador do portaluvas.​Fico pensando aqui que um possível entusiasta e/ou entendido da marca possa olhar atravessado para este 75 e argumentar que o carro é básico, que não é o turbo, ou que o RS isso, qua K-Jetronic aquilo...Mas posso assegurar, que para quem desde os 8 anos admira estes carros, aquela tarde de domingo, foi de um encontro próximo com um verdadeiro MITO sobre rodas. Por duas vezes me peguei passando os dedos pelo relevo do emblema Porsche, quase como naquele beliscão que a gente pede para ter a certeza de que está sonhando acordado.​​


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